
Cresci a ouvir a avó dizer que a inveja é o pior dos pecados. Religiosismos à parte, a inveja é um sentimento muito feio, sem dúvida nenhuma, mas nem sempre.
Já todos nós sentimos inveja, não aquela inveja doentia que não nos deixa dormir à noite ou leva os protagonistas de telenovela a matar o/a rival. Falo de uma inveja mais soft, penso que intrínseca ao ser humano, insatisfeito por natureza, e essa, essa já todos sentimos.
Quem tem caracóis rebeldes, olha de lado para as amigas que têm o cabelo liso, sedoso e alinhado; quem têm cabelo liso, olha de soslaio para mulheres com caracóis, tão bonitos e definidos. As loiras invejam as morenas e estas, por sua vez, invejam as loiras. As casadas têm inveja das amigas solteiras que saem com quem e quando lhes dá na real gana, têm inveja da liberdade e da disponibilidade, das saídas até às tantas da manhã e das ressacas. As solteiras, por sua vez, sentem inveja das casadas, que chegam a casa e têm alguém à espera delas todos os dias, que nunca dormem sozinhas, que acordam com um sorriso de 3 anos às 7 da manhã de Domingo. Os homens comprometidos roem-se de inveja quando ouvem os solteiros gabarem-se das suas conquistas e aventuras sexuais, e estes pensam em como seria bom ter uma namorada a quem pudessem dormir abraçados quando saem sozinhos de um bar.
Achamos sempre que o que os outros têm é que é bom. Que os outros é que têm sorte, que os outros é que são amados, que os outros é que têm grandes oportunidades e que os outros, é pá, os outros é que são felizes. Só quando perdemos alguma coisa ou alguém é que vemos que afinal os outros tinham motivos para terem inveja de nós.
O ser humano é mesmo um bicho esquisito...