Tal como as idas ao dentista, as idas ao centro de estética são igualmente pesarosas para mim. Apesar da diferença significativa do nível de dor sentida, não gosto! É que não gosto mesmo nada! Por isso, para não desatar aos berros e fazer figura de ursa, procuro distrair-me com a conversa das senhoras que pacientemente (outras nem por isso) procuram livrar-nos da tão indesejável penugem.
As mais velhas metem sempre conversa. Falam do tempo, que nunca mais vem o calor, falam dos filhos, falam do que lêem nas revistas cor-de-rosa (às vezes falam de pessoas de quem eu nunca ouvi falar) e falam da mulher do Tó Freitas, que deixou o marido e fugiu com o fulano tal que mora ao pé da mercearia da Alice.
As mais novas são mais caladas. Estão ali para trabalhar e procuram fazer exactamente tudo igual ao que aprenderam na formação de não sei quantas horas que frequentaram antes de iniciar funções. E muito provavelmente não conhecem o Tó Freitas.
Algumas simplesmente não falam.
Nestas alturas, a única solução para não pensar no que aí vem, passa por ficar a par dos vários tipos de depilação e tratamentos corporais que publicitam, com nomes muito originais e bastante elucidativos. Ele é fotodepilação, massagem modeladora, dermodepilação, drenagem linfática, depilação com linha, banho de uva, banho de leite (e outras variações, para todos os gostos), electrólise, epilação, electroporação transdérmica e por aí fora! Há nomes bastantes sugestivos e dou por mim a imaginar como será experimentar chocoterapia, por exemplo. Será algo apetecível com chocolates à mistura ou com choques? E a terapia da rosa? Haverá uma funcionária chamada Rosa que criou um método original de terapia? Se alguma tivesse uma pós-graduação em ginecologia, podiam até publicitar um serviço 2 em 1 e ficava o assunto arrumado.
À falta de prospectos, dou por mim a pensar se a senhora que acabou de me arrancar metade da sobrancelha fará a depilação a ela própria ou se solicitará os serviços de uma colega. E porque não pedir-lhes um conselho e perguntar se recomendam alguém? Elas melhor que ninguém poderão pronunciar-se acerca do assunto.
Aliás, para mim há três categorias de funcionárias de centros de estéticas:
- as-que-arrancam-pêlos-como-se-não-houvesse-amanhã-e-estivessem-muito-aflitas-para-ir-à-casa-de-banho;
- as-que-se-estão-bem-a-borrifar-para-o-que-a-cliente-está-a-sentir-e-quer;
- as-que-são-cuidadosas-porque-já-foram-depiladas-por-uma-tresloucada-e-ficaram-traumatizadas.
Também perco bastante tempo a analisar as condições de higiene e salubridade das instalações. Às vezes fico indecisa entre aquela que tem a senhora simpática que quase não me magoa ou aquela que tem uma decoração fantástica e uma marquesa muito confortável.
Lamúrias à parte, quando saio de lá, parece que tenho menos um quilo e só volto a falar mal da senhora de bata cor-de-rosa imediatamente antes da visita seguinte.